E passadas a eleições europeias de 2009, eis que ficam dois fantasmas: o do crescimento da esquerda à esquerda do PS e o da vitória do PSD. E as duas coisas vão mexer com temas LGBT. Porque a ascensão do Bloco dá força a um partido que sempre foi mais consistente em matéria de defesa da igualdade e porque o PS vai reforçar a luta contra a perda de votos para a sua esquerda com o argumento do regresso do PSD ao poder. E irá, quase de certeza, ameaçar com a possbilidade do Código Civil ficar por alterar na próxima legislatura por falta de uma maioria absoluta socialista ou devido a um governo de coligação PS-PSD. Se já o faziam antes das europeias...
O que nos coloca um dilema, se votar PS para travar o crescimento do PSD ou votar noutros que, pelo seu historial, mostram ser mais fidedignos em matéria de direitos LGBT. E a minha resposta é que mais vale votar em quem é crível segundo o critério dos próprios socialistas: no mesmo dia em que o PS acusou Manuela Ferreira Leite de não ter crediblidade por ter mudado de opinião sobre o TGV, José Sócrates propôs legalizar aquilo que o seu próprio partido tinha chumbado três meses antes com disciplina de voto imposta.
Nada nos garante que, mesmo com uma maioria absoluta, os socialistas não voltem a recuar por meros interesses político-partidários: se já antes nos escorraçaram com o argumento de que eram favor, mas votavam contra; se já antes encheram a boca com belos discursos e as ruas com bonitos cartazes para depois, no momento da verdade, darem o dito pelo não dito; se já antes não lhes bastou absterem-se ou darem liberdade de voto, mas acharam que a igualdade que o PS diz defender tinha que ser adiada com o seu voto contra... o que é que nos garante que não voltamos a ser vítimas da mesma irracionalidade e mentalidade da vitória a todo o custo, mesmo contra a consciência e o mínimo de integridade? E não estariamos nós a ceder precisamente isso se fossemos dar votos em quem contra nós votou? Agimos por convicção ou por medo de um regresso ao poder do PSD? Somos joguetes sem força própria prontos a sermos usados pelos aparelhos partidários? Ou seremos capazes de nas urnas apoiar quem nos tem coerentemente apoiado enquanto criamos uma base de apoio transversal a toda a sociedade civil?
Publicado em simultâneo no Devaneios LGBT.
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