Alguém sugeriu em tempos que todos os blogues deviam ter à distância de um clique um perfil ideológico, uma espécie de declaração de interesses que permitisse a quem lê localizar o autor em termos de valores, filiações e objectivos. Já não me lembro quem foi que o disse, mas era por uma questão de honestidade intelectual e de clareza de opiniões. A ideia é boa, própria da transparência democrática e nada mais natural na abertura de um blogue do que uma apresentação das ideias e temas que lhe dão forma. Assim sendo, segue-se uma espécie de manifesto do Penates Publici.
Comecemos por explicar o nome, já que a sua escolha não foi inocente. Os Penates eram, na antiga religião romana, os espíritos protectores da dispensa (do latim penus), logo, por associação, de toda a habitação. Cada casa romana tinha os seus e, na medida em que os cultos oficiais eram uma versão pública do culto privado, o próprio Estado romano tinha os seus penates que, por serem os de toda a Roma enquanto comunidade ou “residência” política, eram publici. As suas imagens, contava-se, tinham sido trazidas de Tróia por Eneias e eram guardadas no Templo de Vesta, onde o Estado romano tinha também a sua própria chama do lar. Procurava-se, assim, assegurar a protecção, dignidade e prosperidade públicas de Roma por um culto e ritos como os que procuravam assegurar o bem-estar privado de cada casa.
A referência a um objecto de culto e de memória ancestral, símbolo da vida em sociedade e da prosperidade da res publica, enuncia os temas principais da actividade deste blogue: política, causas civis, sociedade, História e religião (eu disse que o nome não é inocente). Para ser mais preciso e pôr as cartas todas em cima da mesa, o Penates Publici é:
Um blogue declarada e convictamente politeísta. Correndo o risco de dizer o óbvio, este espaço é produto do seu autor, logo o primeiro irá naturalmente reflectir as convicções do segundo, incluindo as de natureza religiosa. Daí que o Penates Publici se insira no movimento neopagão, particularmente na vertente reconstrucionista e em linha com a Declaração de Paganismo Romano (já disse que o nome do blogue não é inocente?).
Paralelamente, é um blogue que defende o Estado laico, neutro em matéria religiosa, que não tome partido por uma ou mais confissões, assegurando as liberdades, direitos e garantias dos cidadãos e intervindo em matérias de religião apenas no que diz respeito à manutenção da lei e ordem públicas. Este blogue não é a favor de um Estado ateu que estaria, por isso, a quebrar a sua neutralidade ao tomar partido pela não-religião.
Um blogue ambientalista, porque o espaço natural não é simplesmente espaço por ocupar, urbanizar ou mera fonte de matérias-primas, porque a conservação ambiental é parte integrante do interesse nacional e porque a presente época exige que se aprenda a planear e a medir o progresso humano pelo grau de preservação dos ecossistemas.
Um blogue de sentimentos patrióticos, na medida em que expressa orgulho nacional onde ele é devido, dispensa o menosprezo ou desprezo pelas consciências nacionais e não acha que a História de Portugal tenha começado em 1974 ou 1910: também há feitos, datas e figuras históricas anteriores à implantação da República que merecem ser recordadas, honradas e celebradas. No que tem de bom e de mau, a memória nacional não se apaga.
Um blogue anti-homofóbico, anti-misógeno, anti-racista e pró-democracia, porque é pela igualdade entre cidadãos independentemente da sua raça, origem, género, orientação sexual, religião ou convicções políticas, pela defesa da Declaração Universal dos Direitos Humanos e do Estado de direito democrático.
Um blogue pró-direitos LGBT. Já está implícito no ponto anterior, mas nos dias que correm é sempre bom frisar que se é parte do dito “lóbi gay” (e lésbico e bissexual e transgénero).
Um blogue reintegracionista, porque defende a reintegração da língua galega na lusofonia e a plena admissão da Galiza nas organizações lusófonas. Se a memória nacional não se apaga, a das raízes galegas da nacionalidade portuguesa também não.
Um blogue alcobacense. Inevitável, claro está, por ser essa a origem do autor e sem prejuízo do devido enfoque em temas nacionais e internacionais. Tal como está implícito no ponto anterior, as raízes não se esquecem.
Um blogue sem partido político, quanto mais não seja porque o autor não se revê satisfatoriamente em nenhum dos que têm assento parlamentar e quanto aos outros é, quando muito, simpatizante de um ou dois. Ainda assim, fica a informação de que o Penates Publici inclina-se para a esquerda e a promessa de informar os meus leitores caso algum dia eu passe a militar numa força política.
Finalmente, um blogue com uma dose de humor. Rir para não chorar, rir para relaxar, rir para argumentar, satirizar e rir de tudo. Até de religião. Afinal, se errar é humano, rir é divino.
Estão postos os pontos nos is para o caso de algum dia haver dúvidas, está aberto este blogue no auspicioso dia cinco do mês de Jano e ainda por cima a um sábado, dia de Saturno. Sim, a escolha da data de abertura também não foi inocente.
sábado, 5 de janeiro de 2008
Uma espécie de manifesto
Publicado por Héliocoptero às 10:39
Etiquetas: Blogosfera
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4 comentários:
Olá amigo politeísta! Como celebraste o aniversário do nascimento do Salvador? Bem-vindo!
Eu? Eu dancei e pulei, brindei e bebi, dediquei-me momentaneamente à criação de comédia, ofereci prendas, postais e pequenas coisas e dei que fazer às hormonas... cof!
Tudo dentro do espírito das Saturnais e do Dies Natalis Solis Invictus, claro. Ou não fosse o Natal a vivificante celebração do (re)nascimento do sol :p
Parabéns!
Integro e sensato, de leitura apelativa e imagens pertinentes... gosto muito deste blog.
E é um prazer colocá-lo nos favoritos.
;)
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