sexta-feira, 1 de maio de 2009

Vislumbre do porvir?

As agressões a Vital Moreira e aos outros representantes do Partido Socialista na concentração do 1º Maio são lamentáveis. Em democracia, o lugar no palco da cidadania pertence à palavra e não ao punho e isto é uma lição que já deviamos ter compreendido 35 anos depois do 25 de Abril. Mas os incidentes de hoje revelam as fragilidades e frustrações de uma sociedade civil sub-instruida, com níveis de probreza persistentes, um fosso crescente entre pobres e ricos e há anos desiludida com a classe política. Falhas que se tornam ainda mais evidentes no presente contexto de crise dupla, a nossa de tempos idos e a internacional ainda sem fim à vista.


Há anos que andamos a acumular desilusão e ressentimento, há anos que andamos a arrastar problemas que, por muito que se queria fazer parecer que sim, não se resolvem com auto-estradas, futebol ou campos de golfe. Há demasiado tempo que mantemos uma disparidade salarial enorme e andamos a alimentar fortunas rápidas e astronómicas construidas demasiadas vezes por trocas de favores, tráfico de influências e suspeitas transferências da esfera política para o mundo empresarial. Há décadas que se anda a produzir resultados estatísticos a pensar em ciclos de quatro anos e já por demasiadas vezes que entrámos em períodos de prosperidade ou exuberância momentâneas que não têm qualquer sustentabilidade para os anos seguintes, arrastando-nos num longo lodaçal de mediocres recuperações paleativas e de investimento público extemporâneo. No meio disso tudo, acumulam-se as promessas quebradas, as esperanças desfeitas e os rancores que, face à decrescente representatividade do sistema político e ao seu crescente descrédito, acumulam-se para correrem o risco de explodirem quando a situação atinge níveis críticos. Níveis como os que a presente crise começa a fazer notar e explosão como a que se viu hoje.

Sim, o momento foi lamentável em democracia e sim, terá tido em militantes do PCP um acender do rastilho. Mas entre isso e dizer que todos os que apuparam, agrediram e insultaram eram comunistas é cometer o mesmo erro do cavaquismo, que acusava o mesmo partido de ser o responsável por todas as manifestações, como se elas fossem apenas e só jogadas programadas e não uma expressão de sentimentos populares.

Os tempos são de crise profunda num país que já estava em dificuldades, de aumento do desemprego onde já havia emprego precário, de escândalos financeiros ou de remunerações escandalosas onde já havia má distribuição da riqueza e de descrédito crescente de uma classe política já de si desacreditada. O que se viu hoje pode ser muito bem uma amostra do que está por vir. Não este ano, que em 2009 há eleições e muito dinheiro a circular, mas em 2010, quando já não houver chamadas às urnas e for preciso voltar a apertar o cinto para voltar a fazer descer um défice sem se saber se a crise internacional está ou não no fim. E é assim que as democracias morrem: quando se sente que elas já não têm como resolver problemas de longa data ou quando se instala o sentimento de que a palavra - como o voto - é inútil e parte-se para o punho.

1 comentário:

Anónimo disse...

bem, verdade se diga que o Vital sabia que ia provocar barulho, dando isto, são truques da política, fazem parte do espectáculo,

z