segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Já calhava um regresso à escola

O que um historiador brasileiro veio dizer, que a tal "escola de Sagres" do Infante D. Henrique nunca existiu, não é propriamente uma novidade. Há anos que a tese tem vindo a ser defendida, simplesmente nunca passou para a boca do povo. Pelo menos não com força suficiente para derrubar o mito de um príncipe de barrete preto, olhos postos no mar através de uma janela de uma sala de aula algarvia. As provas arqueológicas são nulas, o promontório não se prestava a fixação humana de relevo e muito menos à construção naval. Se escola alguma vez houve, seria noutras paragens do Algarve. Sagres teve, isso sim, um estatuto sagrado de origem pré-romana, de que hoje resta o nome e lendas de fantasmas. Nunca terá tido uma academia marítima.

Já no famigerado programa «Os Grandes Portugueses», o rapazinho surfista que foi "defender" o Infante D. Henrique disse que o mais provável era não ter existido escola alguma; quando muito, ter-se-à criado uma no sentido de corrente de ideias e não de uma estrutura física. Nada, no entanto, que passe para o saber de um país pobre como o nosso. Basta ver a notícia no Público e ler os comentários para se ficar com uma amostra da abundância de nacionalismo bacoco que acusa na tese uma conspiração dos brasileiros, um desprestígio para Portugal e a negação dos Descobrimentos Portugueses. É a caracterização da verdade história como traição ou um crime de lesa-Pátria em todo o seu esplendor. Se fosse coisa de uns quantos extremistas, vá que não vá, mas o que está ali é o que se pode ouvir em conversas de rua, programas de rádio ou em qualquer outro contexto onde se possa escutar a vox populi. Ignorante, bruta e a querer ser doutora.

Uma pessoa quase que se sente tentada a pensar que Alfarrobeira não foi uma tragédia: foi um acontecimento naturalmente português!

2 comentários:

Pedro Fontela disse...

Em épocas de crise o nacionalismo é explorado por alguns sectores, costuma ser mais fácil que ter uma conversa séria e produz mais simpatia em termos populares... De resto parece-me um pouco pateta dizer que não havia qualquer tipo de "escola" - não percebo muito do tempo e tema mas é inegável que houve um conjunto de conhecimentos técnicos, naúticos, que foram organizados de forma coerente e que permitiram aos portugueses ter a dianteira em matérias de exploração, conquista e comércio. Pelo menos durante algum tempo.

O significado de Sagres pode sem dúvida ser mais místico que técnico apesar de eu próprio não ter ideia de qual o signifiado atribuido ao sitio.

Héliocoptero disse...

Portanto, seria escola no sentido de corpo de ideias. E parece-me lógico que o Infante D. Henrique, na qualidade de governador do Algarve, teria uma residência algures onde teria consigo documentos importantes e reuniria estudiosos. Mas entre isso e uma escola, mais ainda em Sagres...

Até porque o Infante D. Henrique não passou toda a sua vida no Algarve e deu alguma atenção à Universidade de Coimbra, onde era mais provável encontrar académicos e homens de saber.