domingo, 27 de julho de 2008

Não sei nem quero saber

Alberto Martins, o grande timoneiro da nau socialista nas turbulentas águas parlamentares, respondeu a esta entrevista de Cravinho com a convicção de que o PS "não recebe lições de combate à corrupção" do ex-deputado e que "quem faz deste combate uma bandeira, não o deixa a meio" (ler aqui), numa alusão ao facto de João Cravinho ter partido para Londres para presidir ao Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento.

Para além de Alberto Martins não ter respondido aos argumentos do ex-ministro das Obras Públicas, limitando-se a uma verborreia ad hominem, fica por saber o porquê das orelhas moucas do PS às lições de Cravinho. Saberão os socialistas de algum caso de corrupção que tira autoridade moral ao ex-deputado? Se sim, convém que o denunciem, já que o governo enche de tempos a tempos a boca com discursos de moral, justiça e rectidão. Terá João Cravinho falta de qualificações para compreender devidamente o fenómeno da corrupção e, como tal, para apresentar soluções? Talvez. Mas não terá certamente menos do que José Sócrates com a sua licenciatura tirada às três pancadas e, é certo, Alberto Martins não hesitaria em reconhecer o valor das lições de moral e técnica do Primeiro-Ministro. Publicamente, pelo menos.

Cúmulo da hipocrisia, o líder parlamentar socialista deixa no ar a ideia de que se João Cravinho estivesse de facto empenhado em lutar contra a corrupção, teria continuado a exercer o cargo de deputado em vez de fazer as malas e mudar-se para Londres. Se Alberto Martins tivesse o bom senso se remexer nos meandros da sua memória, ter-se-ia lembrado que foi o Governo quem indicou Cravinho para o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento em Janeiro de 2007. Recorde-se quem quiser lendo a notícia de então . É certo que Cravinho era livre de recusar o cargo, mas não deixa de ser menos verdade que se o Partido Socialista estivesse de facto empenhado na luta contra a corrupção, a última coisa a fazer seria expatriar o deputado que estava na linha da frente desse combate. Assim se vê a convicção do Governo na guerra à delapidação do bem comum!

O PS, entretanto, prepara a resposta à entrevista de Cravinho. Espera-se mais um exercício de hipocrisia, má-vontade e muita retórica, bem ao gosto do modelo de campanha política permanente. Cá estaremos para ler o que com (pouca) piada se disser.

1 comentário:

Pedro Fontela disse...

É como a China que não aceita lições de direitos humanos...