sábado, 24 de outubro de 2009

Prioridades

A Igreja Católica critica a entrada do casamento entre pessoas do mesmo sexo na agenda parlamentar e choca-se que tal aconteça quando há tantos problemas por resolver. Desemprego, pobreza, baixas qualificações, baixos salários, condições de vida e de trabalho precárias... males por atender é coisa que não falta neste país.

Só não se percebe é porque é que a Igreja não é coerente e não pede, nesse caso, o fim do campeonato de futebol, que ocupa tanto espaço nos jornais, telejornais energias e gastos das famílias no meio da presente crise. Ou porque é que a Conferência Episcopal Portugal não se insurge com a mesma veemência contra a abertura de telejornais com notícias sobre o Ronaldo, que há gente no desemprego e a passar sérias dificuldades - tantos problemas por resolver! - e andam as televisões a falar das pernas, da casa, do carro, da roupa, da carreira, do ordenado, da transferência, das namoradas e sei lá mais o quê do Ronaldo. Ou, já agora, porque é que a Igreja não pede o encerramento dos teatros e cinemas, que andamos a perder tempo com entretenimento diário quando há soluções para os nossos males à espera de serem encontradas e aplicadas.

O perigo do argumento das prioridades é que há sempre qualquer coisa que qualquer pessoa pode apontar como sendo mais premente. Certamente que haverá até quem acuse as missas de serem uma perda de tempo que podia ser aplicado na resolução dos nossos problemas. E é também um bom refúgio retórico quando já não se tem qualquer outro argumento contra uma coisa, neste caso contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Aliás, a falta de exercício mental da Igreja sobre o assunto está plasmada nas palavras de D. Januário Turgal, Bispo das Forças Armadas: "As pessoas que votaram sabiam a posição dos partidos. Agora quero é saber o que pensam os juristas sobre o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo." Os juristas já discutem o assunto há vários anos; até já deu direito à publicação de pareceres. Aí está o verdadeiro problema da Igreja: não é o desemprego ou a pobreza, mas a noção legal de casamento.


Publicado em simultâneo no Devaneios LGBT

3 comentários:

J. disse...

Tu e o teu trauma com o futebol. O ordenado do Ronaldo não é pago com os dinheiros do estado. Se ele faz assim tanto dinheiro é porque as pessoas investem nesse tipo de entretenimento.

Héliocoptero disse...

Não foi nesse sentido que referi o Ronaldo. Estava a falar do facto de se abrir noticiários com directos ou reportagens sobre ele, mesmo que haja desemprego, pobreza ou outros problemas que poderiam merecer destaque nas notícias.

Isto para quem puxa do argumentos das prioridades.

J. disse...

Está bem, então. De facto ontem à noite na RTP1, naquele programa "a voz do cidadão" falavam precisamente a respeito de prioridades e destaques de certas reportagens nos telejornais.