Assinala-se hoje os 624 anos sobre a aclamação de D. João I, a 6 de Abril de 1385, nas Cortes de Coimbra. Exceptuando a escolha de Afonso III, ordenada pelo Papa Inocêncio IV, o Mestre de Avis foi o primeiro chefe de Estado português a ser eleito, posto que o trono estava vago depois do falecimento de D. Fernando e da revolução de 1383, a mesma que expulsou da regência a rainha-viúva e fez letra morta do Tratado de Salvaterra de Magos. Sem herdeiro legítimo ou, pelo menos, incontestável, coube aos representantes da Nação a escolha de um novo monarca. E eles lá se reuniram - clero, nobreza e procuradores eleitos pelos concelhos - parece que oficialmente para discutirem a estratégia de guerra contra Castela, mas na prática para fazerem um novo rei. Ausente o partido de D. Beatriz, a única filha legítima de D. Fernando e mulher do soberano castelhano, a discussão fez-se entre os apoiantes dos filhos de Inês de Castro e os que estavam do lado do Mestre de Avis que, por força da argumentação de João das Regras e da espada de Nuno Álvares Pereira, seria unanimemente aclamado rei após um mês de debate.
Sendo certo que não foi uma eleição moderna de um regime moderno, a data não deixou de consagrar o princípio da soberania popular. Sem hiperboles! O que as Cortes de Coimbra afirmaram foi o papel dos governados na escolha dos governantes e a gestão comum daquilo que a todos dizia respeito. Foi a assunção da ideia de que é pela vontade popular que alguém acede ao poder e que é para a defesa do bem comum que esse poder é entregue, noções mais tarde consagradas pelo Infante D. Pedro no Livro da Virtuosa Benfeitoria. E tão importante foi a eleição de Coimbra de 1385 que o seu princípio viria a ser recordado nos séculos seguintes: na crise da regência de 1438-40, na crise dinástica de 1580, na revolução de 1640 e no debate que deu origem à primeira Constituição Portuguesa, a de 1822.
Não, a eleição de 1385 não foi de uma democracia moderna. Mas foi um marco na nossa História, que é um contínuo e não uma coisa feita de mudanças instantâneas. Quem defende a liberdade hoje e menospreza o passado, esquece-se que foi por conquistas anteriores que se chegou às actuais e, nesse processo, importa recordar os acontecimentos que marcaram o passo da História e que contribuiram para a modernidade. A reunião magna de Coimbra foi um desses momentos. Recordemo-lo!
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Em Coimbra, em tempos idos
Publicado por Héliocoptero às 10:28
Etiquetas: Geração de Avis, História de Portugal, Reis de Portugal
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8 comentários:
deixa ver se sai
(saiu :)
tudo começou com Afonso Henriques a ser alçado pelos homens rei de Portugal em Ourique: real, real por Portugal foi aí cunhado. O princípio é mesmo fundador. Com Afonso III foi a primeira replicação e entraram os castelos no Escudo de Armas de Portugal, e depois é como muito bem contas ali em cima.
Esqueci-me de referir que o 6 de Abril é uma boa data para dia de Portugal, muito mais que a morte de Camões. Fica para um texto a 10 Junho, com uma lista de datas alternativas.
E dia 26 quero ver se estou na Igreja do Santo Condestável ou noutra qualquer em Lisboa onde tenham lugar cerimónias oficiais ao Nun'Alvares :p
eu vou é voltar a visitar o Carmo um dia destes mas é antes da canonização; isso para mim é igual ao litro, dá-me vontade de rir aquela da fritura de peixe, e acho que um santo a sério nem gosta nada que andem a falar dele, quer é sossego e talvez umas voltinhas não sei como é aquilo lá naquelas bandas,
só para não ficar aqui um equívoco: eu gosto de Nun'Alvares pelo que foi, pelo que fez, e até acredito que possa ter feito 'ressuscitações' e não estou a gozar. Ao espectáculo da canonização é que não ligo, é institucional e tem agenda política. E também não sou monárquico, sou a favor de um Estado republicano e laico como o que temos mais ou menos.
É verdade que há várias agendas políticas ligadas à canonização e é também verdade que são quase todas monarquicas. Mas a mim o que me interessa é a homenagem ao Condestável e, tendo sido ele católico, faz-me todo o sentido assistir a uma cerminónia católica em honra dele. É o que ele teria gostado e, nesse aspecto, a coisa é um pouco como um casamento: posso não ser cristão, mas se uma amiga minha se casar pela Igreja, lá estarei para um momento que é dela e não meu.
tudo bem Hélio, acho bonito que faças assim, procedes como imaginarias que ele gostaria, e além disso a diversidade é uma coisa boa; eu também faço umas coisas a pensar que el gostaria, mas é capaz de ser malandrice minha :), e daí não sei...
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