Em tempos não muito idos, a Juventude Socialista era a ponta de lança LGBT do PS. Foram cartazes a dizer que eramos iguais aos outros, discursos no parlamento e encontros de jotinhas, a elaboração de um projecto-lei que nunca passou de um projecto de intenções e até a presença no Orgulho em Lisboa. Estas e outras coisas deixavam a ideia de que estava ali um grupo que defenderia a igualdade de direitos com convicção e firmeza... até ao dia 10 de Outubro. Nessa data, ficámos todos a saber o verdadeiro peso político da JS e o peso da consciência dos jotinhas: nulo! Bastou os graudos dizerem que não se votava a favor dos projectos-lei do Bloco e dos Verdes para os pequenos socialistas porem de parte os discursos, os cartazes e as marchas e darem o seu voto contra. É certo que por entre muito choro, queixas e pontapés, mas, como crianças birrentas metidas na ordem, lá votaram conforme lhes foi ordenado pelos mais velhos. Tanto que o único que votou a favor - um ex-jotinha - só o fez porque teve autorização para isso. Foi dito que era um sinal de pluralidade dentro do PS, embora nunca se tenha explicado porque é que o pluralismo precisa de autorização prévia.
A lei não prevê a criminalização da fuga à "disciplina partidária", pelo que não pode ter sido um medo da Justiça que tornou a JS incapaz de traduzir as palavras em gestos no momento da verdade. Suspeita-se, isso sim, do carreirismo. Alguém (ou os próprios) deve ter lembrado os jotinhas das possibilidades de voltarem a estar nas listas de deputados se desobedecessem às ordens partido e nem é preciso estar a fazer um grande esforço de imaginação: basta recordar aquilo que, sobre a (in)dependência dos deputados, foi escrito por Vital Moreira, esse paladino do aparelho partidário socialista. Verdade seja dita, a JS não teve coragem para pôr as ideias que defendera à frente da carreira política. É certo que não teria ganho a batalha, mas teria marcado posição. E a política também se faz disso: de derrotas em que se ganha credibilidade, algo certamente distante da teoria socialista da vitória a todo o custo.
Pergunta: se o PS voltasse a dar o dito pelo não dito sobre os casamentos entre homossexuais, de que lado estaria a JS? Do lado dos seus ideais ou, mais uma vez, do lado da carreira política? Vale a pena confiar novamente?
O próximo número sai dia 9 de Abril, aqui e no Devaneios LGBT.
2 comentários:
Não acredito que com a pressão de voto à esquerda o PS deixasse cair o casamento homo, seria muita burrice.
No entanto há que cobrar a clarificação da posição até à última e decidir o voto pesando isso, a JS que seja inteligente, espera-se, não?
z
não tem a ver mas,
Garvão,
z
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