terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

No bananal chamado Portugal

Para quem tentou corromper alguém com duzentos mil euros, cinco mil é uma bagatela. É uma ínfima parte do preço de um apartamento no centro de Lisboa, mais ínfima ainda dos lucros que a Bragaparques certamente tem e faz a condenação de Domingos Névoa parecer um imposto sobre a corrupção: subornar um vereador é legal, desde que se dê ao Estado uma pequena fracção. E isto tudo depois do colectivo de juízes ter declarado que, e passo a citar desta notícia, a corrupção é um "flagelo das democracias modernas" e combatê-la é uma "necessidade imperiosa das sociedades". Pena é que depois a montanha nem um rato consiga parir. À luz deu, quando muito, uma espécie de flatulência jurídica. Se a Justiça já anda pelas ruas da amargura, não será certamente assim que se eleva acima do esterco que já lhe chega pelo menos à cintura.

E ao ler o que diz o Daniel Oliveira nesta entrada, que as origens humildes de Domingos Névoa foram um dado a seu favor, eu não posso deixar de recordar aquele passagem da «Desobediência Civil» em que Henry Thoreau menciona Confúcio:

"Se um Estado é governado pelos princípios da razão, pobreza e miséria são motivos de vergonha; se o um Estado não é governado pelos princípios da razão, riquezas e honras são motivos de vergonha."

A ausência de integridade, de elevação moral e de justiça também se mede pelos mecanismos de enriquecimento considerados legítimos e, em Portugal, já sabemos, é tido como lícito e até meritório que alguém enriqueça por via do suborno, favores e com recurso ao "flagelo das democracias modernas". Se já não bastavam os exemplos de Armando Vara ou de Ferreira do Amaral, aí está o caso de Domingos Névoa mais as suas origens humildes.

1 comentário:

Pedro Fontela disse...

E dizem-me que a justiça e a política não estão directamente ligadas e que funcionam razoavelmente bem...