sábado, 24 de janeiro de 2009

Tios, sobrinhos e só falta primos ou enteados

Alguns detalhes da crescente polémica em torno do processo de licenciamento do Freeport de Alcochete são ilustrativos do modo como a coisa pública é, em Portugal, gerida como se fosse privada, da mais pequena junta de freguesia ao governo nacional. Pela boca do próprio, ficámos todos a saber que um tio encaminhou um homem de negócios para o ministério onde o sobrinho era ministro e com garantias de atendimento rápido graças a esse laço de sangue. E, o que é mais grave, o senhor Júlio Monteiro conta-nos o episódio com a maior as naturalidades, em viva voz para orgãos de comunicação social, como se meter cunhas familiares na gestão do Estado fosse a coisa mais normal do mundo. Não há pudor ou sequer a consciência de que isso pode ser ilegitimo: há apenas o hábito provinciano de encarar o governo da coisa pública como se de um negócio de família se tratasse. Assim vai este país de brandos costumes.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ou muito me engano ou esta trapalhada ainda vai no adro e 2009 será o annus horribilis do Nosso Primeiro...
De tudo isto retenho uma certa sensação positiva de que o nosso sistema judicial está finalmente a entrar na chamada "maturidade democrática", de que são sintomáticos os diversos processos nos últimos anos envolvendo ricos e poderosos, sobretudo os de gente ligada ao pântano bloco-centralista que tem governado o país e monopolizado a administração pública nas últimas décadas.
É certo que muitas das grandes figuras lá se vão safando em bicos de pés pelas brasas, mas estes são sinais encorajadores de que algo de fundamental está a mudar.

Marco Oliveira disse...

É caso para dizer que o Sócrates já anda "Ó tio!... ó tio!..."
:-)