sábado, 1 de novembro de 2008

Passaram 253 anos


Já antes defendi a opinião de que, revistos os feriados nacionais para eliminar a generalidade dos traços de confessionalismo de Estado e adicionar a celebração de datas históricas mais ou menos esquecidas, o dia 1 de Novembro devia manter o seu estatuto actual. Não como efeméride religiosa, mas em memória do acontecimento de há 253 anos: o terramoto de Lisboa de 1755.

Note-se que não há qualquer intenção de celebrar os mortos ou de fazer uma evocação vazia de defuntos hoje anónimos e distantes e aos quais a generalidade de nós não conseguirá sequer atribuir um grau de parentesco numa longa árvore genealógica. Fazer do Dia do Terramoto um feriado nacional justifica-se pelo exercício de recordar os desastres passados para prevenir consequências idênticas no futuro. E num país onde se constrói demasiado e mal, onde o património cultural tem o destino que lhe é fadado por uma nação que despreza grandemente as virtudes académicas do mérito, esforço e excelência, não é despropositado recordar o dia em que Lisboa veio literalmente abaixo e com ela ardeu muita da riqueza artística, literária e arquitectónica de séculos.

Recordar o Dia do Terramoto é recordar as suas consequência; fazê-lo com um desejo de evitá-las no futuro é deixar em aberto duas questões:

Estamos a construir da forma correcta e nos sítios certos, com o bom senso, a segurança e responsabilidade que se exige? E estamos a preservar e a proteger o nosso património cultural ou estamos a condenar parte dele ao mesmo destino de escombros que o terramoto reservou para o Hospital de Todos os Santos, o Paço da Ribeira ou o Mosteiro do Carmo?

2 comentários:

Pedro Fontela disse...

São perguntas retóricas? :)

Héliocoptero disse...

Às vezes da a ideia que sim, Pedro, às vezes dá mesmo a ideia que sim...