sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Renascimento a oriente?

Via The Wild Hunt, eis duas notícias de (possíveis) novos tempos para antigos locais de culto pré-cristão: a descoberta do mais bem conservado templo à Grande Mãe Cybele e os planos de reconstrução do Templo de Artémis de Éfeso!

O primeiro encontra-se próximo da localidade de Balchik, na Bulgária, e foi encontrado em 2007 graças a trabalhos arqueológicos de emergência, motivados pela construção de um hotel. As primeiras escavações denunciaram logo que se estava perante um monumento de raro valor, à medida que estátuas e estruturas eram desenterradas. Segundo os académicos, para além de ser o mais bem preservado edifício helénico nos balcãs, o templo aparenta ser também o mais bem conservado local de culto da Grande Mãe em toda a Europa! E não será demais acrescentar que isso significa muito, mas mesmo muito num panorama de vestígios muitas vezes residuais. Basta lembrar as ruínas do templo à mesma divindade no Palatino em Roma ou, mais próximo de nós, as supostas fundações descobertas após o terramoto de Lisboa de 1755 junto à Igreja da Madalena, onde ainda hoje a parede exterior de um edifício próximo ostenta ex-votos de adoradores de Cybele. Que se tenha descoberto uma estrutura bem conservada é, de facto, um achado raro, mais ainda quando os arqueólogos dizem que ele pode ser integralmemte restaurado!

O único problema que se põe são as intenções do proprietário do terreno que, depois de tomar conhecimento do que tinha em mãos, pôs o local à venda por mais de 600 mil euros depois de a autarquia já ter gasto uma quantia avultada para assegurar a preservação dos achados. A menos que o proprietário desça o valor pedido ou o Estado bulgaro intervenha (ou alguém de carteia cheia dê uma mãozinha), pode estar em risco o mais bem preservado templo da Grande Mãe.

Numa nota mais animadora, na vizinha Turquia surgiu um projecto de reconstrução integral do Templo da Éfeso à deusa Artemis, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Sim, integral! E não apenas uma mera cópia, mas um novo Artemision. A notícia detalhada está preto no branco aqui para quem se quiser deliciar: a 1500 metros das ruínas do último templo, surgirá um novo também ele com 120 colunas, 25 mil metros cúbicos de mármore e o bónus de ter estátuas da autoria de alguns dos melhores escultores do mundo. Um digno sucessor do edifício destruído no século V.

Alguém (não) consegue imaginar o ressurgimento em poucas décadas de dois focos de peregrinação pagã em território europeu? E se a ideia pega e o exemplo for seguido? Assistiremos algum dia à reconstrução do templo de Cybele no Palatino? Aos de Saturno, Concórdia e Castor e Pollux no Fórum Romano? Atrevo-me a sonhar com uma nova Casa das Vestais?

3 comentários:

Pedro Fontela disse...

Uau, grandes noticias, andava tão distraido que nem tinha dado pelas novidades. Infelizmente os 600 mil estão um pouco além das minhas possibilidades lol mas esperemos que alguém intervenha (privado ou o estado).

Os templos reabertos são atracções turisticas... não serão de certeza utilizados por isso talvez fosse mais útil criar santuários novos. Dada a carga de trabalhos em que estamos metidos neste país sugiro que seja dedicado a Hércules (os 12 trabalhos...)....

Pedro Fontela disse...

ps: lembrei-me de outra coisa... (já agora, estes posts sobre paganismo são uma maravilha :) ) existem rituais públicos cá em Portugal dos reconstrucionistas romanos?

ps2: sorry, eu sei que sou um melga mas tenho que perguntar (ou a provocar...) mais isto lol... dá aí uma bibliografia de "religio romana" para o principiante :)

Héliocoptero disse...

Sim, é verdade que os temples reabertos serão atracções turísticas e não locais de culto, mas isso não quer dizer que não possam ser pontos focais. O fenómeno, aliás, não seria novo: as ruínas em Atenas também são para turista ver, mas não deixam de ser uma referência para pagãos e até um local de culto ocasional, como se viu há pouco tempo atrás. Os templos reconstruídos/restaurados, embora feitos a pensar no turismo e não em religião, são um passo importante em direcção aos "nossos" próprios espaços de culto edificados.

Quanto a encontros de reconstrucionistas romanos em Portugal, nunca ouvi falar em nenhum. É possível que a secção portuguesa da Federação Pagã tenha feito alguma coisa ou esteja aberta à realização de eventos e rituais, mas eu tendo a tomar tudo o que eles fazem com um olhar crítico. Já o teu pedido de bibliografia vai ter direito a uma entrada própria. Dá-me uma horita mais logo à noite ;)

P.S.: Hercules Victor seria sem dúvida um bom candidato ao primeiro templo romano no Portugal dos tempos modernos. Minerva também era capaz de ser boa ideia, dada a nossa falta de qualidades e mérito académicos, e Juno Moneta, porque estamos mesmo a precisar de quem nos avise insistentemente :p