segunda-feira, 6 de outubro de 2008

César das Neves defende a necrofilia

Pelo menos é isso o que se pode depreender da seguinte passagem desta sua mui cinematográfica homilia de segunda-feira:

O Estado não regula o amor entre pessoas. Se o fizesse teria de criar muitos contratos além do casamento. A lógica da instituição matrimonial vem das implicações estruturais na sociedade da união fecunda entre mulher e homem, incomparáveis com as de qualquer outra. Escamotear isto e tratar o contrato como um direito do amor mútuo é uma tolice.

César das Neves acha que o casamento só faz sentido no contexto da "união fecunda entre mulher e homem" e que tratá-lo como "um direito do amor mútuo é uma tolice", coisas dos tempos modernos que dedicam demasiadas horas aos filmes de aventuras e poucas ao estudo das Sagradas Escrituras. César das Neves, que não é ignorante, conhecerá certamente o Código Civil, onde se pode ler o seguinte:

Artigo 1622º:

1. Quando haja fundado receio de morte próxima de algum dos nubentes ou iminência de parto, é permitida a celebração do casamento independentemente do processo preliminar de publicação e sem intervenção do funcionário do registo civil.


Ora, se o Estado permite a realização de um casamento quando um dos nubentes está em risco de vida e, pressupõe-se por essa possibilidade, reconhece essa união mesmo que o dito nubente morra poucos minutos depois da cerimónia, então o Estado está a regular afectos, isto é, a reconhecer um casamento que é um contrato meramente sentimental e material, sem possibilidade de "união fecunda da mulher com o homem" devido ao falecimento de um dos membros do casal. Assim sendo, porque não acho que o senhor Neves seja ignorante, só posso concluir uma coisa:

João César das Neves defende a necrofilia! Se ele diz que o Estado não regula afectos e, reconhecendo o Código Civil a possibilidade de um casamento com um dos nubentes próximo da morte, a conclusão só pode ser a defesa da "união fecunda entre mulher e homem" com um dos membros do casal já cadáver. Nunca pensei que o homem fosse tão progressista.


Publicado em simultâneo no Devaneios LGBT

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