No costumeiro exercício de fidelidade acrítica que naturalmente caracteriza uma formação política que ainda não entendeu o passado, não compreende o presente e silencia a oposição interna, o Partido Comunista Português, pelas palavras de Albano Nunes, reiterou hoje em Pequim o seu apoio à soberania chinesa no Tibete. O ilustre membro da comissão política e secretariado da referida força partidária fez questão de dizer que as críticas à administração chinesa do Tibete "não são uma questão de soberania, nem de direitos humanos, mas sim uma forma das potências imperialistas pressionarem a China, aproveitando o pretexto dos JO."
Portanto, os limites à liberdade religiosa, liberdade de associação, liberdade de expressão, a destruição ambiental, a proibição da língua tibetana fora dos limites da região administrativa (mas dentro das fronteiras do Tibete tradicional) e a transformação dos tibetanos numa minoria discriminada no seu próprio país são, a julgar pelas palavras de Albano Nunes, coisas menores e a preterir em nome de uma sociedade socialista. Fazer das violações dos Direitos Humanos uma questão central nas relações com a China é ceder a pressões imperialistas e não contribuir para um mundo mais justo e democrático. Esse ideal, pelos vistos, é pertença exclusiva do comunismo, de tal modo que implementá-lo - como Pequim supostamente faz - justifica a supressão da democracia e justiça...
Que o autismo impera no Comité Central não é novidade, mas nunca deixa de surpreender que o partido que tanto grita «Facismo nunca mais!» seja o mesmo que defende regimes ditatoriais que diferem do salazarismo apenas no perfil ideológico e não nos métodos repressivos. E a China é uma ditadura que se recusa a reconhecer os mesmos direitos, liberdades e garantias pelas quais os comunistas lutaram antes do 25 de Abril. De uma contradição destas, a única conclusão possível é a de que o Partido Comunista Português acha que a censura, o delito de opinião, a tortura, a supressão de direitos laborais e as perseguições religiosas não são reprováveis, são antes meios aceitáveis se executados por um regime comunista e em nome de um ideal comunista. Pelo menos é que o dá a entender a dualidade de critérios do PCP, que tão depressa se entrega de corpo e alma às celebrações do 25 de Abril, como se converte num aliado da ditadura chinesa. Tudo em nome de uma fidelidade ideológica cega e acéfala e do mais primário anti-americanismo que converte as violações dos Direitos Humanos em actos de valor relativo a quem os pratica: é um crime revoltante se forem os Estados Unidos, é a gloriosa construção de uma sociedade socialista se for a China (ou a Coreia do Norte ou Cuba).
Ironicamente, o autismo do PCP torna-o num estranho parceiro dos neoconservadores americanos, já que, à semelhança da actual administração norte-americana, o Partido Comunista é adepto da lógica de que quem não está a favor, só pode estar contra: ou se defende a ditadura chinesa ou é-se um imperialista. Há credibilidade que aguente isto?
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Assim se vê o autismo do PC
Publicado por Héliocoptero às 16:32
Etiquetas: Democracia, Direitos Humanos, Partidos políticos, Tibete
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3 comentários:
Não são os mesmos senhore que não sabem bem se a Coreia do Norte é uma ditadura? Acho que depois disso está tudo dito.
Onde está a espinal medula desta gente? Depois de despirem a «farda» política, sentir-se-ão bem com as ideias que defendem em público? As atrocidades, quando cometidas por «camaradas» ou fervorosos «amigos do partido», passam a ser legítimas e historicamente enquadradas? Soa-me a lavagem cerebral e repentina emigração de neurónios.
o clássico militante do PCP é um item que já devia estar nas prateleiras de algum museu do estado novo, a par com os livros onde se vê a marca azul do lápis da censura: tem valor histórico mas já não serve de nada
abraços, always***
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