Um estudo do British Council recentemente noticiado pela SIC revela que, nas escolas portuguesas, o principal motivo de troça pelos colegas é a roupa, seguida da aparência física, cor da pele, sotaque e deficiência. Motivos para humilhação não faltam, portanto, o que levanta uma questão interessante.
Os dois principais argumentos de quem se opõe à adopção de crianças por casais do mesmo sexo são a ausência de uma figura parental masculina ou feminina e o ambiente escolar dos adoptados. Quanto ao primeiro, se a lei permite a adopção por pessoas singulares ou famílias monoparentais, o Estado aceita, nesse caso, a possibilidade de alguém ser educado na ausência de uma mãe ou de um pai. Que exista essa possibilidade e, ao mesmo tempo, se recuse a adopção a homossexuais com base apenas na sua orientação sexual, é incorrer na discriminação injustificada condenada há pouco tempo pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
Quanto ao ambiente escolar das crianças, o estudo do British Council permite um aproximar do dedo à ferida: afinal, nas escolas é-se gozado por uma série de coisas, desde a roupa ao sotaque, sem que, com isso, se vede o direito à adopção a casais ou pessoas singulares que não dêem garantias de poder oferecer aos adoptados indumentária dentro da moda ou educá-los de modo a falarem português padrão, sem pronúncias susceptíceis de atrairem provocações. A sociedade parece conviver bem com as humilhações escolares motivadas pela aparência física e maneirismos. Pelo menos tolera-as minimamente, mas cai o Carmo e a Trindade se se puser a hipótese de a esses motivos se juntar a orientação sexual dos pais.
Hipocrisia? Talvez. Certamente que o problema radica no facto de a sexualidade continuar a ser rica em tabus, ou não fosse a troça tolerável ou a adopção por uma mulher ou homem aceitável até ao momento em que mexe com matérias sexuais. E, nesse caso, o receio de muitos ante o alargamento de direitos a casais homossexuais é mais auto-induzido do que outra coisa: a sociedade reage com apreensão a uma coisa por ela mexer com tabus e projecta medos que de real têm pouco. Demasiada emoção e pouca razão, portanto.
Publicado em simultâneo no Devaneios LGBT
sábado, 1 de março de 2008
Muito gozam as crianças
Publicado por Héliocoptero às 14:08
Etiquetas: Adopção, Direitos LGBT, Homofobia
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2 comentários:
Excelente post!!
Bom sabê-lo, caro Max. Obrigado ;)
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