Quando há cheias, coisa que em Portugal acontece com uma facilidade parva, fala-se de erros de planeamento e ordenamento do território. E não são só os leitos de cheia que foram ocupados ou afunilados, é também a impermeabilização de zonas altas que, por força de não conseguirem absorver a água, obrigam-na a seguir a lei da gravidade e a acumular-se em áreas teoricamente seguras. Tudo porque não só não se soube respeitar o espaço que pertence aos rios, como não se viu valor na preservação de uma estrutura ecológica urbana que mantenha um equilibrio entre espaço urbanizado e espaço natural, isto é, terra impermeabilizada e terra que absorve água da chuva.
Estranhamente, não obstante estas conclusões, todos parecem fugir a sete pés da possibilidade de se avançar com demolições para corrigir pelo menos alguns erros. E não se percebe o porquê da recusa dessa solução. Afinal, o Estado expropria e demole construções para a passagem de uma via rodoviária ou ferroviária por estar em causa um bem maior. O precedente existe. Que não se faça uso dele para corrigir algumas aberrações de planeamento dos últimos trinta anos e prefira-se continuar a pagar os custos financeiros, económicos e humanos de cheias cada vez que chove um pouco mais, só pode ser sintoma de uma sociedade que não vê progresso fora do betão. Por pobreza que caracteriza um país com baixo nível de instrução e uma classe política tantas vezes pacóvia, o bem maior só existe para algumas coisas, é argumento que justifica a construção como sinónimo de desenvolvimento e a preservação do espaço natural como o seu oposto. Daí a maior facilidade em demolir para construir do que demolir para renaturalizar, daí também as queixas constantes contra a Rede Natura, a Reserva Ecológica e a Reserva Agrícola nacionais pelas restrições que colocam à urbanização de terrenos e a solução chico-esperta dos PIN, como se não fosse do interesse nacional a preservação de ecossistemas de utilidade pública.
O resultado de basear a riqueza nacional em especulação e betão está à vista cada vez que a chuva é a sério. Os custos, esses são pagos pelo Estado e por quem fez ou comprou casa onde ela não devia existir ou paga as consequências de habitações alheias. Dificilmente a factura calha a quem lucrou com as mais valias-urbanísticas de terrenos que deviam ter permanecido agrícolas, mas que passaram a urbanizáveis por força de uma decisão administrativa irresponsável e muitas vezes com a ajuda da cunha certa.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Custos
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