sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O snob LGBT

A respeito da edição de ontem do programa Linha da Frente e das palavras do Sérgio Vitorino sobre uma postura snob dentro do meio LGBT que acabou por afectar a Teresa e a Helena, volto a dizer que concordo com ele. Mas há que distinguir diferentes níveis de "snobismo" (esta palavra soa mal que se farta):

1. Há o sentimento de superioridade em relação ao outro por causa de coisas como o sotaque, a forma de andar, a aparência física, a roupa, o grau de instrução e etc. Isto é verdade para hetero e homossexuais, com a agravante de, para os últimos, poder ser mais uma chaga quando já se está ferido pelo medo, discriminação e preconceito.

2. Depois há pessoas que interiorizam o estereótipo ao ponto de fazerem dele uma auto-imagem voluntariamente projectada: o gay é alguém com estilo, requinte e bom gosto; é urbano, artístico e bem formado. Isto faz parte da imagem que muitos Portugueses têm de um homossexual e é também parte do próprio imaginário dentro da comunidade. Não quer dizer que não haja pessoas que sejam de facto cultas e cosmopolitas e que não tenham mérito nisso e no que fazem, mas há também aqueles que querem ser assim porque acham que é isso o que significa ser homossexual. E, por consequência, são esses os primeiros a apontar o dedo aos que, dentro do meio LGBT, não correspondem a esse padrão "popular": os provincianos, as sapatonas, os incultos, etc. Por vezes até como forma de rejeitarem aquilo que já foram ou não querem ser.

Quanto à falta de apoio associativo, também eu fiquei embasbacado com o que ouvi, mas não sei até que ponto as organizações LGBT portuguesas têm capacidade para fazerem mais do que "dar o peixe em vez de ensinar a pescar". Afinal, é conhecida a fragilidade da sociedade civil e do quão difícil é mobilizá-la, deficiências que se tornam gritantes quando estamos a falar de associações de uma minoria sexual ainda tão escondida.


Publicado em simultâneo no Devaneios LGBT

2 comentários:

sérgio vitorino disse...

lol, tanto há capacidade, que se tem apoiado. Curiosamente, foram apenas os colectivos que menos meios têm que o fizeram, o que indicia apenas um problema de vontade ou falta dela. Um abraço

Héliocoptero disse...

Obrigado, Sérgio!