quinta-feira, 28 de maio de 2009

Do Portugal profundo (ou nem tanto)

Vá lá, é só de Pombal, que não é nenhuma aldeia perdida num vale beirão. Mas as palavras do Presidente da Câmara, citadas nesta notícia, dão a ver o que vai na cabeça de parte da nossa "elite" autárquica.

Disse o senhor Narciso Mota, autarca do PSD, que era bom que "houvesse terapeutas para tratar todas essas causas que dão origem a problemas complicados, e aquelas causas contraproducentes àquilo que é a essência da vida humana, toxicodependência, práticas contraproducentes, homossexualidade e pedofilia", que "não se facilite, em termos democráticos, aquilo que é contranatura, aquilo que não está na essência daquilo que a gente pretende, em termos de história, de dignificar aquilo que é a pessoa humana" e, já agora, a "a violência da homossexualidade", juntamente com tantas outras que, diz ele, não estão "em sintonia com aquilo que é a razão natural da vida."

Não sei que problemas da homossexualidade o dito senhor tem em mente. Será a discriminação e a homofobia para qual ele próprio contribui com as suas palavras? Ou será a "violência" a que se refere aquela que é produzida por homossexuais? Se sim, convém que ele se preocupe também com a que é da autoria de heterossexuais em vez de achar que actos violentos e orientação sexual têm uma relação de causa e efeito. Até porque se essa relação existe, é na lógica de fobia pela diferença, à imagem e semelhança da opinião do senhor Narciso Mota. E quanto à "razão natural" da vida, das duas uma: ou é natural ou é racional. Se é a primeira, o senhor Narciso Mota bem que pode começar a pedir o fim puro e simples do casamento, que não consta que ele seja praticado no mundo natural. Casamento, eleições ou governo municipal. Tudo coisas dos hábitos, costumes e razões humanas e que têm muito pouco de natural. São tão artificiais quanto a ideia de que a homossexualidade é contranatura, já que relações sexuais entre elementos do mesmo sexo são coisa recorrente em várias espécies animais, nalguns casos relações duradoiras até. E, convém lembrar, "em termos de história, de dignificar aquilo que é a pessoa humana", a sociedade democrática aspira à tolerância, à igualdade e ao reconhecimento da identidade individual, precisamente aquilo que é posto em causa pela discriminação e homofobia e em prejuízo da referida dignidade da pessoa humana.

Ninguém quer recomendar um terapeuta para o senhor Narciso Mota?

Publicado em simultâneo no Devaneios LGBT.

2 comentários:

Anónimo disse...

Que idiota! Alguma associação LGBT lhe devia mover uma acção por ofender o artº 13º da Constituição com aquela declaração.

z

Anónimo disse...

uma resposta,

z