Chamada Kybele, Kybebe, Agdistis, Reia-Cybele ou apenas Cibele, os romanos referiam-na frequentemente como Magna Mater, a Grande Mãe, cujo aniversário e culminar de sete dias de festa em sua honra tinha lugar hoje, a 10 de Abril. Considerada divindade progenitora de todas as coisas, dos deuses até aos animais selvagens, era assim associada a Reia, a titânide grega que deu à luz Zeus e os seus irmãos, e representada num carro puxado por dois leões, como na fonte madrilena que tem o seu nome. No entanto, a origem do culto de Cibele não está nem em Roma nem na Grécia, mas na actual Turquia (antiga Frigia), mais propriamente na região de Pessinus, tendo sido trazido para a urbe romana em 204 a.C. e alvo de restrições pelo facto de ser presidido pelos chamados galli, sacerdotes frígios que se auto-flagelavam e castravam em danças extásicas. Ainda assim, apesar das limitações, Cibele viria a ser uma das divindades mais populares da Roma antiga, tendo-se o seu culto espalhado por todo o mundo romano, incluindo Lisboa, onde ainda hoje subsistem vestígios da devoção de que foi alvo.
Pouco antes do terramoto de 1755, quando se procedia à construção de uma casa entre a Rua das Pedras Negras, a Travessa do Almada e o Largo da Madalena, foram descobertas as fundações de um grande edifício romano, primeiro chamado de "fábrica grande e magestosa", depois templo de Cibele, por juntamente se terem encontrado ex-votos romanos à Grande Mãe. O espaço de culto à deusa ficaria assim no limite (exterior?) das muralhas romanas, junto ao que terá sido o fórum lisboeta e próximo daquela que mais tarde seria a Porta de Ferro, entrada ocidental da cerca moura aquando da conquista de Lisboa em 1147 e, possivelmente, construída no que restava de um arco do triunfo romano. No século XVIII, depois do terramoto, sobre as ruínas acabou por ser erguida uma habitação pombalina e, numa das paredes exteriores, mais propriamente na que dá para a Travessa do Almada, foram colocados quatro ex-votos que ainda hoje lá estão, embora em mau estado de conservação.
Já agora, o piso térreo do edifício - o mesmo do ar condicionado "confortavelmente" em cima de um vestígio romano - é actualmente ocupado pela sede do Movimento Esperança Portugal. Ainda toquei à campainha para perguntar se tinham planos para mudar a coisa de lugar e dar o devido destaque (e cuidado) a peças de valor histórico, mas ninguém abriu a porta. Fiquei sem saber se a "esperança" do movimento também abrange o património.
5 comentários:
era a mãe de Attis, certo?
tenho que ver se distingo as histórias da civilização minóica/micénica das posteriores,
olha aqui, :)
z
Consorte de Attis, que seria inicialmente apenas uma divindade da vegetação, mas atingiu uma grande preponderância no reinado de Claúdio, tendo um culto próprio que, a seu tempo, atingiria um estatuto de quase igualmente com o da Grande Mãe.
consorte e filho pelo que fui ver, o tabú do incesto em pleno, castrou-se e renasceu como pinheiro manso,
a mãe era ciumenta
z
Caro Hélio,
De facto o referido ar condicionado não pertence ao MEP. O rés-do-chão é desde à pouco tempo a sede nacional do movimento e sofreu obras recentes mas, como o dinheiro não abunda, é naturalmente climatizado.
Como não conseguiu falar com ninguém do MEP, achei por bem esclarecer a sua dúvida.
Já conhecíamos a origem das peças que refere. O prédio pertence ao nosso senhorio, por sinal bastante zeloso, e pode ser que o MEP venha a responder às suas preocupações, quando tiver acesso ao financiamento que têm os restantes partidos.
Um abraço,
Rui Nunes da Silva
Caro Rui,
Agradeço o esclarecimento e desejo-vos sucesso na vossa intenção de dar a devda atenção e cuidado às peças romanas.
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