Na antiga religião romana, Fevereiro é tempo de purificação, uma tradição sobrevivente de quando o calendário tinha dez meses e o ano começava em Março. Assim sendo, era próprio (e continua a ser lógico) que o começo de um novo ciclo fosse antecedido pela devida limpeza e preparação. O processo de purificação tinha início a 13 de Fevereiro com a Parentalia, a celebração de nove dias aos antepassados.
Por ser uma festividade dedicada aos mortos, o período era marcado por tabus que levavam ao encerramento de templos, à proibição de casamentos e à exibição das insígnias dos magristrados. Era a manifestação da ideia de que a piedade, que consiste no cumprimento zeloso de deveres, implica alguma forma de estado impuro quando se trata do dever para com os defuntos, pelo que se exigia uma suspensão ou reserva que antecede o regresso a uma condição pura, que é física e não moral. Para pôr as coisas de um modo muito prosaico, trata-se de uma espécie de higiene num plano do religioso: o contacto com os mortos exige cuidados seguidos de limpeza. Apropriado, portanto, que tenha lugar no que em tempos foi a véspera de ano novo.
Para a celebração deste período, são próprias cerimónias privadas de homenagem aos antepassados, que, nos nossos dias, podem passar por coisas como o rever de vídeos ou fotografias de família, recordar de histórias e episódios de vida dos que já faleceram e oferendas de incenso, flores ou velas junto das suas fotografias. A 21 de Fevereiro, o último dia da Parentalia, as cerimónias tornavam-se públicas com a romaria aos cemitérios (como actualmente se faz em Novembro), onde a família tomava refeições junto dos túmulos, derramava libações ou deixava oferendas de flores. E atenção que, no seguimento do que já foi dito, o que é oferecido aos mortos não pode ser partilhado com os vivos.
O ciclo de purificação entre parentes terminava a 22 de Fevereiro com a Caristia ou Cara Cognatio, a festa dos vivos que originava novas refeições em família, desta feita em casa e com oferendas ao respectivo Lar.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Parentalia
Publicado por Héliocoptero às 14:44
Etiquetas: Religião, Religio Romana
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