Do debate sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, esta noite no Prós e Contras, fica um misto de sabores, uma certa ambiguidade de quem paira entre uma sensação de conquista e a contemplação do trabalho que ainda há por fazer.
De um lado, a noção de que já percorremos um longo caminho de há uma década para cá. Venham daí as memórias da luta que foi precisa para a extensão das uniões de facto a todos os casais e da homofobia descarada nas elites políticas. Venham daí também, para quem as tiver, as memórias daqueles tempos em que eu ainda não era nascido, mas em que a homossexualidade era crime. E dos tempos que se seguiram, da liberdade para se estar escondido entre quatro paredes ou num armário. Comparem com o que se viu esta noite na RTP e sorriam, que jornalistas, juristas, constitucionalistas e académicos levantaram a voz para defender a igualdade de direitos para os homossexuais. Assunção natural de identidade sexual e relação incluidas, juntamente com a revelação humana, de identidade assumida, de alguém que é também católico e que não deixa por isso de dizer (e defender os direitos de) quem é. E, como referiu o Miguel, a constatação de que, mesmo da parte de quem se opõe, passámos do nada ou alguma coisa para o tudo ou algo a meio caminho. Sorriam porque percorremos um longo caminho.
Por outro, a consciência de que ainda há muito trabalho por fazer. Que a igualdade de acesso ao casamento civil mostra-se no horizonte, mas ainda não chegámos lá. Que vamos ter que lutar para a conquistar e que vamos ter oposição forte. E que, quando vencermos, temos que pensar como o Paulo Côrte-Real e perceber que será apenas um começo. Mais um. Ou antes dois: o princípio do fim da homofobia e o de uma nova fase na luta para a eliminar.
Mas sorriam porque percorremos um longo caminho. E continuem a sorrir no muito que ainda nos falta.
Publicado em simultâneo no Devaneios LGBT
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
O debate (ii)
Publicado por Héliocoptero às 01:20
Etiquetas: Direitos LGBT
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