No âmbito de um programa de requalificação da faixa costeira orçado em mais de oitenta e sete milhões de euros, José Sócrates confirma a demolição de habitações na Ria Formosa. Dito assim e sem pensar muito, até parece coisa boa, mas as palavras do Primeiro-Ministro deixam mais perguntas do que respostas:
Quantas casas vão ser demolidas? O espaço vai ser inteiramente renaturalizado ou a área demolida vai ser parcialmente ocupada por algum empreendimento imobiliário supostamente "estruturante" para a região e o país? A área devolvida à Natureza é para ser conservada ou está sujeita a ser desclassificada no dia em que surgir um projecto PIN chorudo o suficiente para gozar com a cara dos contribuintes que pagaram uma requalificação ambiental? A recuperação da Ria Formosa pretende servir de exemplo para o Algarve inteiro ou é só para dar ares de preocupação ambiental enquanto o resto da costa algarvia é posta a saque? O Primeiro-Ministro está disposto a avançar com a demolição dos hotéis, aldeamentos e blocos de apartamentos à beira de encostas e dunas do Algarve, ou prefere safar esses injectando betão nas praias e arribas e demolindo apenas as construções mais pobres e que não entram na categoria de Projectos de Interesse Imobiliário... perdão, Nacional?
Estamos a falar de José Sócrates, o homem que gosta de ficar bem na fotografia e que aprecia a aura de grande timoneiro que até já foi Ministro do Ambiente. Hoje em dia, ele planta uma árvore com uma mão e com as duas assina de bom grado a desafectação de uns quantos hectares de área protegida, clamando «progresso!» ante mais uma vitória do lóbi do betão. Cuidado quando ele anuncia a renaturalização de uma parcela do território nacional em nome de turismo de qualidade!
sexta-feira, 2 de maio de 2008
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5 comentários:
Foi curioso ver as casas que serviram de cenário à aparição televisiva do Primeiro-Ministro que nos (des)governa: só barracas. Então, e as «casinhas» de luxo em cima das arribas?! Essas «merecem» ser preservadas; são boas contribuintes! Quer lhe chamem Polis Litoral Ria Formosa ou ARP (Areia Para os Olhos), dá no mesmo… Este «filme» tem um desfecho demasiado previsível, logo lamento não ficar entusiasmada.
Partilho das dúvidas e falta de entusiasmo da Patrícia!
A propósito de areia, Patrícia, talvez devessemos também perguntar como se pretende assegurar a sustentabilidade da Ria Formosa perante o avanço do mar: se com mais betão e intervenções de emergência, ou se repondo frequente e periodicamente onde é devida - na costa! - as toneladas de areia retidas pelas barragens de que é feito o nosso dito "progresso nacional".
Debate é o que mais espero. Gostaria de ouvir as pessoas que lá vivem e trabalham [mariscadores e pescadores, não os tipos da especulação imobiliária, que salivam com km de betão], bem como os especialistas [independentes! Já agora: dão-se alvíssaras a quem os localizar!] na preciosa dinâmica costeira e afins. Betão a entrar pelo mar [e pelos olhos] já temos em Quarteira e não me parece uma ideia de gente com tino. A areiazita em reposição constante, como a que tenho visto na Praia de Faro, é dispendiosa e está longe de ser sustentável.
Ninhos e juncos. O que o homem lá devia pôr eram juncos e postes de nidificação. Qualquer coisa fora deste ãmbito dá direito a biqueiro.
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