domingo, 6 de janeiro de 2008

Ainda o Iowa

A dois dias das primárias no New Hampshire, apenas uma breve nota sobre o processo eleitoral no Estado do Iowa.

Sim, é primitivo na sua falta de boletins de voto ou na completa ausência de votação secreta. Sim, também é desproporcionado pelo grande peso mediático que se dá a um Estado com uma população pequena à escala americana. E sim, pode até ser questionável na facilidade com que um republicano muda para o lado democrata e vice-versa. Pode ter todos estes e muitos mais defeitos, mas daquilo que ninguém pode acusar as primárias no Iowa é de não serem uma democracia viva e genuína. Porque cá e em tantos outros sítios do mundo o processo eleitoral é largamente passivo, com uns a ouvirem e outros a votarem mediante o que ouvem, porque cá como noutras paragens os debates políticos são costumeiramente ignorados e, enfim, porque cá como noutros países todas as desculpas servem para não se perder quinze minutos para esperar numa fila, escrever uma cruz num boletim e depositá-lo numa urna. Em Portugal como noutros países, faça chuva ou faça sol, esteja calor ou frio, um quarto de hora é muito tempo quando se trata de ir votar. Perder parte do dia a ouvir debates ou a ler programas políticos então nem se fala! Mas no primitivo processo eleitoral do Iowa, eis que centenas de milhares de pessoas, de sua livre-vontade, saem à rua com temperaturas negativas e perdem não minutos, mas horas a votar e a debater entre elas!

É certo que a percentagem dos que participaram nas primárias não chega a 10% da população do Estado, mas, neste como noutros casos, o trabalho, paciência e interesse de poucos dá a muitos uma lição de democracia viva em que votar é, de facto, uma decisão pensada, convicta e inteiramente merecedora de parte do nosso tempo.

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