sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

A bagagem do aeroporto

Com a decisão de construir o novo aeroporto de Lisboa em Alcochete, estava-se mesmo a advinhar que os interesses dos costume não iam tardar em manifestar-se. Bastou um dia e ei-los: as imobiliárias a argumentar que a localidade não tem como crescer e que são precisas alterações ao PDM.

Num país que precisa das grandes obras públicas como de pão para a boca, que vive dependente da construção civil que alimenta tanto os eleitores como os eleitos (e os respectivos partidos) e onde as mais-valias urbanísticas são um autêntico negócio da China à custa do herário público e do bem comum, que não haja dúvida que o Aeroporto da Canha vai ser uma verdadeira prova dos nove ao que em Portugal se entende por planeamento urbano, conservação da Natureza e ordenamento do território. Se vai ser uma obra planeada e executada com responsabilidade e rigor ou se vai servir para abrir caminho a toda a espécie de interesses e especulação imobiliária, confirmando assim as suspeitas de João Cravinho. No fundo, o que é que se quer para Alcochete? Uma cidade aeroportuária devidamente isolada a bem da segurança e da sustentabildade ou um aeroporto dentro de uma cidade à semelhança do da Portela porque não se teve nem a força, nem o sentido de responsabilidade para conter os apetites imobiliários nos terrenos envolventes e nas povoações em redor? Vamos investir milhões de euros numa estrutura de longo prazo ou daqui a duas décadas vamos estar à procura de um novo local para um novo aeroporto porque o da Canha ficou preso entre áreas habitacionais e sem possibilidade de expansão?

A título de (bom) exemplo, veja-se o Aeroporto Internacional de Estocolmo, localizado quarenta e dois quilómetros a norte da capital sueca (choque-se quem acha que Lisboa vai morrer sem a Portela). É uma autêntica cidade aeroportuária, servida por vias rodo e ferroviárias e autocarros para as duas grandes cidades mais próximas, Estocolmo a sul e Uppsala a trinta e cinco quilómetros a norte. A povoação vizinha chama-se Märsta, está a cerca de quatro quilómetros do aeroporto e, ao contrário do que sucede em Portugal cada vez que há uma grande obra pública, não cresceu desenfreadamente e ao sabor da especulação imobiliária. Pelo contrário, preserva a paisagem natural e os traços de localidade rural. Senão veja-se pela imagem de satélite:


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O que se entende por desenvolvimento e progresso na Suécia parece ser "ligeiramente" diferente da compreensão que do tema se tem em Portugal, sem que com isso o país nórdico esteja, como nós, na cauda da Europa.

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